terça-feira, 27 de dezembro de 2011

"Caprichos e relaxos", Paulo Leminski , Recorte 2

ali

ali
se

se alice
ali se visse
quanto alice viu
e não disse

se ali
ali se dissesse
quanta palavra
veio e não desce

ali
bem ali
dentro da alice
só alice
com alice
ali se parece

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sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

"A Menina que Roubava Livros", Markus Zusak, Recorte 1


No porão ao escrever sobre sua vida, Liesel jurou que nunca mais tomaria champanhe, pois nunca teria um sabor tão gostoso quanto naquela tarde quente de julho.
O mesmo se deu com acordeões.
Muitas vezes ela teve vontade de perguntar ao pai se ele lhe ensinaria a tocar, mas, por isso e aquilo, alguma coisa sempre a impedia. Talvez uma intuição desconhecida lhe dissesse que ela jamais conseguiria tocá-lo como Hans Hubermann. Com certeza, nem mesmo os maiores acordeonistas do mundo seriam comparáveis. Jamais conseguiriam equiparar-se àconsentração displicente do rosto do papai. Ou, então, não haveria um cigarro trocado por um serviço de pintura pendendo dos lábios do músico. E eles nunca saberiam cometer um errinho com uma risada retrospectiva em três notas. Não do jeito que ele sabia.
Vez ou outra, naquele porão, Liesel acordava saboreando o som do acordeão nos ouvidos. Sentia a queimação doce do champanhe na língua.
De quando em quando, sentava-se encostada na parede, desejando que o dedo morno de tinta passasse só mais uma vez pelo lado de seu nariz, ou querendo ver a textura de lixa das mãos do pai (Hans Hubermann).
Se ao menos pudesse voltar a ser tão distraída, a sentir tanto amor sem saber, tomando-o por engano pelo riso e pelo pão com um levíssimo cheiro de geléia esplhado por cima.
Foi a melhor época de sua vida.
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